quinta-feira, 27 de outubro de 2022

 

 


 

 

A estrelinha

 

Tu, que na Eternidade negra andas perdida,

Estrela doce, amada deste coração meu,

E que outrora tinhas no brilho tanta vida,

Quando éramos no mundo somente tu e eu;

 

Oh, branda luz, tão meiga e secreta!

A saudade por entre as linhas sempre te buscará

E muita vez, cruzando a nocturna claridade,

Em imortais alturas para ti voará.

 

Passei anos de pranto, passarão tantos inda

Desde que te perdi em hora de pesar!

E minha dor não cansa, e minha mágoa infinda

Qual triste Eternidade, não sabe o que é passar!

 

Prazer dos meus amores, prazer mais fascinante!

Sentir sonho grandioso de vindouro esplendor!

Tão cedo apagados, estrelas dum instante

Que vão atrás deixando um escuro aterrador.

 

Cedo apagados! Logo errando em meu tormento

Não tenho outro consolo mais vivo neste aquém

Senão alçar p’ra ti este meigo pensamento,

Estrelinha sorridente, da tumba mais além!

 

Que muito, sim! Ai, muito na vida eu te queria

Carícia deleitosa deste coração meu!

E em muita felicidade o amor teu me envolvia

Quando éramos no mundo somente tu e eu!

 

 

Vasile Alecsandri

(Romênia 1821-1890)

 

 

Song for a Friend

sábado, 22 de outubro de 2022

 

 

 


 

As  Rosas  De  Ispaã

 

As rosas de Ispaã na bainha musgosa,

Os jasmins de Mossul  a flor da laranjeira

Ah, fragrância não têm suave e tão ditosa,

Ó branca Leila, como a tua aura ligeira!

Lábios corais, soando a risada ligeira

Bem melhor que a água viva, e com voz mais ditosa,

Bem melhor que o ar feliz que embala a laranjeira,

Que a ave que canta ao lar na bainha musgosa...

Mas desde que fugiu, com sua asa ligeira,

O beijo dessa boca encarnada e ditosa,

Perfume já não há na tênue laranjeira,

E nem celeste odor nas bainhas musgosas...

Que o teu jovem amor, borboleta ligeira,

Volte ao meu coração, com sua asa ditosa,

E que perfume ainda a flor da laranjeira,

As rosas de Ispaã na bainha musgosa!

 

Charles Leconte De Lisle (1818-1894)

 

Trad. de Renata Cordeiro