Tempo de azul e não. Desencantado
reino do que não foi, mundo postiço,
ontem feito de agora, hoje passado:
na essência do não-ser o instante omisso.
(Margaridas da tarde, onde o seu viço?
Choro de água nos ares, lento e alado
caminho cor de sonhos? Insubmisso
mar sem datas, desfeito e recriado?)
Suaves rechãs por onde a mão do vento
esculpia no verde a sombra exata
e as imagens que o olhar já não alcança.
Aventuras tão só do pensamento:
arco de azul, a tarde era a fragata
supérflua, para o exílio da esperança.)
Waldemar Lopes, poeta brasileiro (1911-2006).
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