XVII
Ignoro o que seja a flor da água
Mas conheço o seu aroma:
Depois das primeiras chuvas
Sobe ao terraço,
Entra nu pela varanda,
O corpo inda molhado
Procura o nosso corpo e começa a tremer:
Então é como se na sua boca
Um resto de imortalidade
Nos fosse dado a beber,
E toda a música da terra,
Toda a música do céu fosse nossa,
Até ao fim do mundo,
Até amanhecer.
Eugénio Andrade
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/