sexta-feira, 31 de janeiro de 2020







Pilotagem

E os meus olhos rasgarão a noite;

E a chuva que vier ferir-me nas vidraças
Compreenderá, então, a sua inutilidade;

E todos os sinos que alimentavam insónias
hão-de repetir as horas mortas
só para os ouvidos da torre;

E os outros ruídos abafar-se-ão no manto negro da noite;

E a mão alva que me apontava os nortes
e ficou debruçada no postigo
amortalhada pela neve
reviverá de novo;

E todas as luzes que tresnoitaram os homens
apagar-se-ão;

E o silêncio virá cheio de promessas
que não se cansaram na viagem;

E os caminhos se abrirão
para os homens que seguirem de mãos dadas;

E assim terão começo
os sonhados dias dos meus dias!




Fernando Namora, escritor português (1919-1989).

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020






O que preferes, meu amor? Magnólias
Ou alvos, puros lírios virginais
Vergados pelo som de harpas eólias
Soltas nas longas tardes outonais?
Jasmins, hortências, rosas amarelas?
Cravos de sangue, meigas açucenas?
Girassóis da família das estrelas?
Agapantos beijados por falenas?
Crisântemos serão de teu agrado?
Que preferes, amor? Por que não falas?
Que outras flores há que não possuas?
Miosótis e gerânios, lado a lado?
Leves glicínias para as tuas salas?
Num ramo imenso, amor, são todas tuas…



João Manuel Simões


do livro Suma Poética, 1979