O Que eu Quero
Eu quero nesta vida um sonho lindo
Que passe como a nuvem cor de rosa,
Hei-de dizer, depois cerrando os olhos
Oh! Flor do cemitério, és bem formosa.
Não quero muito não: à fresca sombra
Do viçoso jardim da mocidade,
Quero dois dias m´embalar tranqüilo
Gozando amor em doce liberdade.
Quero ver sempre o céu puro e sereno,
Nuvens de ar e o sol sempre dourado,
E aos doces beijos da mulher que amo
Hão de ir morrendo as dores do passado.
Debaixo da mangueira eu hei de vê-la
Ao meio da languia dormindo,
Soltos cabelos flutuando ao vento,
Nos eu sonho gentil irá sorrindo.
À noite quando a lua dos amores
Vier chorar debaixo do arvoredo,
Encostada indolente no meu ombro
Ela há de ouvir-me virginal segredo.
OH! sombra dos amores tão formosa
Como é viva e formosa a borboleta,
Eu serei para ti - a doce aragem,
Tu serás para mim - a violeta.
Quero dois dias - na macia grama
Reclinado a sonhar sobre um canteiro!
Passarei minha horas perfumadas
Como a cândida flor do jasmineiro.
Será vida bem curta, porém bela!
Sem ambição, sem glórias e sem dores,
Basta um raio de sol tendo ao meu lado
Uns lábios de mulher e algumas flores.
Posso morrer depois, e que m'importa
Tendo a vida corrido vaporosa!
Que hei de murmurar, cerrando os olhos,
Ó flor do cemitério, és bem formosa!
Pedro Luís Pereira de Sousa, poeta e político brasileiro (1839-1884)
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