A Demora
O amor condena-nos:
Demoras
Mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
E és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
Já não sou senão saudade
E as flores
Tombam-me dos braços
Para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
Em que te aguardo,
Só me resta água no lábio
Para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
Tomo a lua por minha boca
E a noite, já sem voz
Se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
E é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
Um rio se vai aguando até ser mar.
Mia Couto, in " idades cidades divindades"
Mia Couto - escritor e biólogo moçambicano. (1955)