quinta-feira, 20 de abril de 2023

 

 

 


 

Eu te prometo

 

Eu te prometo meu corpo vivo

Eu te prometo minha centelha

Minha candura meu paraíso

Minha loucura meu mel de abelha

Eu te prometo meu corpo vivo

Eu te prometo meu corpo branco

Meu corpo brando meu corpo louco

Minha inventiva meu grito rouco

Tudo o que é muito tudo o que é pouco

Meu corpo casto meu corpo santo

Eu te prometo meu corpo lasso

Mar de aventura mar de sargaço

Vaga de náufrago onda de espanto

Orla de espuma do meu cansaço

Eu te prometo meu doce pranto

Eu te prometo todo o meu corpo

Ardendo eterno na nossa cama

Como um abraço como um conforto

P´ra que me lembres além da chama

Eu te prometo meu corpo morto

 


Rosa Lobato de Faria,

 


In´ A Noite Inteira Já Não Chega (Poesia 1983-2010)

 

 


Rosa Maria de Bettencourt Rodrigues Lobato de Faria foi uma actriz, escritora, romancista, poetisa, contista, dramaturga e guionista de novelas e séries portuguesa.

 

20 de abril de 1932 - 2 de fevereiro de 2010

 

Pascal Chove painter

 

 

quarta-feira, 19 de abril de 2023

 

 

 



 


 

 

Desencanto

 

Eu faço versos como quem chora

De desalento. . . de desencanto. . .

Fecha o meu livro, se por agora

Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .

Tristeza esparsa... remorso vão...

Dói-me nas veias. Amargo e quente,

Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,

Assim dos lábios a vida corre,

Deixando um acre sabor na boca.

Eu faço versos como quem morre.

 

 

Manuel Bandeira, poeta brasileiro 1886/1968