sábado, 30 de abril de 2022

 

 

 


 

Creio nos anjos que andam pelo mundo,

Creio na Deusa com olhos de diamantes,

Creio em amores lunares com piano ao fundo,

Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

 

Creio num engenho que falta mais fecundo

De harmonizar as partes dissonantes,

Creio que tudo eterno num segundo,

Creio num céu futuro que houve dantes,

 

Creio nos deuses de um astral mais puro,

Na flor humilde que se encosta ao muro,

Creio na carne que enfeitiça o além,

 

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,

Na ocupação do mundo pelas rosas,

Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.

 

 

Natália de Oliveira Correia foi uma intelectual, poeta e activista social açoriana, autora de extensa e variada obra publicada, com predominância para a poesia.

 

 

terça-feira, 26 de abril de 2022

 

 


 

 

Se por um instante Deus se esquecesse que sou uma marioneta de trapo e me presenteasse com um pouco mais de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas não pelo que valem, mas pelo que significam.

Dormiria pouco, sonharia mais.

Entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos 60 segundos de luz.

Andaria quando os outros páram, acordaria quando os outros dormem.

Ouviria quando os outros falam e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate…

Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto não apenas o meu corpo, mas também a minha alma.

Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre gelo e esperava que nascesse o sol.

Pintaria com um sonho de Van Gogh as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que oferecia à Lua.

Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas…

Meu Deus, se eu tivesse um pouco mais de vida, não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.

Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo Amor.

Aos Homens, provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar.

A uma criança dar-lhe-ia asas, mas teria de aprender a voar sozinha.

Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês Homens…

Aprendi que todo o mundo quer viver em cima de uma montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.

Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem agarrado para sempre.

Aprendi que um Homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.

São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer…

 

Gabriel Garcia Marquez

segunda-feira, 25 de abril de 2022

 

 


 

 

25 de Abril – O dia em que nasceu a Liberdade

 

 

Abril de Abril

 

Era um Abril de amigo Abril de trigo

Abril de trevo e trégua e vinho e húmus

Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo

ainda só ardor e sem ardil

Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas

era um Abril na rua Abril a rodos

Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças

era um Abril de clava Abril em acto

em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo

Abril de boca a abrir-se Abril palavra

esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo

Abril de mão na mão e sem fantasmas

esse Abril em que Abril floriu nas armas.

 

Manuel Alegre 

 

 

domingo, 24 de abril de 2022

 
 
 Digital arte By Shepherd Alsation
 
 
 

 

 

 

 


 

Andava à deriva, sem afetos, sem ambições, como uma estrela errante no sistema planetário de Úrsula.

 

Gabril Garcia Marquez

 

Do livro "Cem anos de Solidão"