quinta-feira, 27 de outubro de 2022

 

 


 

 

A estrelinha

 

Tu, que na Eternidade negra andas perdida,

Estrela doce, amada deste coração meu,

E que outrora tinhas no brilho tanta vida,

Quando éramos no mundo somente tu e eu;

 

Oh, branda luz, tão meiga e secreta!

A saudade por entre as linhas sempre te buscará

E muita vez, cruzando a nocturna claridade,

Em imortais alturas para ti voará.

 

Passei anos de pranto, passarão tantos inda

Desde que te perdi em hora de pesar!

E minha dor não cansa, e minha mágoa infinda

Qual triste Eternidade, não sabe o que é passar!

 

Prazer dos meus amores, prazer mais fascinante!

Sentir sonho grandioso de vindouro esplendor!

Tão cedo apagados, estrelas dum instante

Que vão atrás deixando um escuro aterrador.

 

Cedo apagados! Logo errando em meu tormento

Não tenho outro consolo mais vivo neste aquém

Senão alçar p’ra ti este meigo pensamento,

Estrelinha sorridente, da tumba mais além!

 

Que muito, sim! Ai, muito na vida eu te queria

Carícia deleitosa deste coração meu!

E em muita felicidade o amor teu me envolvia

Quando éramos no mundo somente tu e eu!

 

 

Vasile Alecsandri

(Romênia 1821-1890)