sexta-feira, 25 de outubro de 2019






A Carícia Perdida



Sai-me dos
dedos a carícia sem causa,
Sai-me dos dedos... No vento, ao passar,
A carícia que vaga sem destino nem fim,
A carícia perdida, quem a recolherá?
Posso amar esta noite com piedade infinita,
Posso amar ao primeiro que conseguir chegar.
Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos.
A carícia perdida, andará... andará...
Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante,
Se estremece os ramos um doce suspirar,
Se te aperta os dedos uma mão pequena
Que te toma e te deixa, que te engana e se vai.
Se não vês essa mão, nem essa boca que beija,
Se é o ar quem tece a ilusão de beijar,
Ah, viajante, que tens como o céu os olhos,
No vento fundida, me reconhecerás?




Alfonsina Storni, poetisa argentina (1892-1938).




Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/

segunda-feira, 21 de outubro de 2019



Dia da Maça (Apple Day)






As Maças


Da alma só sei o que sabe o corpo:
onde a esperança e a graça
aspiram ao ardor
da chama é a morada do homem.
Vê como ardem as maças
na frágil luz de inverno
uma casa devia ser
assim: brilhar ao crepúsculo
sem usura nem vileza
com as maças por companhia.
Assim: limpa, madura.


Eugenio de Andrade




Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/