domingo, 25 de outubro de 2020


 

 

 

Sou

 

 Sou suave e triste se idolatro, posso

Abaixar o céu até minha mão quando

A alma do outro à alma minha enredo.

Pena alguma não acharás mais branda.

Nenhuma como eu as mãos beija,

Nem se acomoda tanto em um sonho,

Nem convém outro corpo, assim pequeno,

Uma alma humana de maior ternura.

Morro sobre os olhos, se os sinto

Como pássaros vivos, um momento

Voar baixo meus dedos brancos.

Sei a frase que encanta e que compreende,

Sei calar quando a lua ascende

Enorme e vermelha sobre os barrancos.

 

 

Alfonsina Storni, poetisa argentina (1892-1938).