sexta-feira, 29 de novembro de 2019





Asas Abertas



As asas da minh'alma estão abertas!
Podes agasalhar-te no meu Carinho,
Abrigar-te de frios no meu Ninho
Com as tuas asas trêmulas, incertas.

Tu'alma lembra vastidões desertas
Onde tudo é gelado e é só espinho.
Mas na minh'alma encontrarás o Vinho
e as graças todas do Conforto certas.

Vem! Há em mim o eterno Amor imenso
Que vai tudo florindo e fecundando
E sobe aos céus como sagrado incenso.

Eis a minh'alma, as asas palpitando
Com a saudade de agitado lenço
O segredo dos longes procurando...



João da Cruz e Sousa




Publicado no livro Últimos sonetos (1905).

terça-feira, 26 de novembro de 2019






Tem um aviso na porta do meu coração:

Quem não dança conforme o ritmo da casa,
não perca tempo tocando a campainha.




Maria Bethânia




sábado, 23 de novembro de 2019





Errático



As noites se fixam 
Sob teu olho. As sílabas re- 
Colhidas pelos lábios - belo, 
Silencioso círculo - 
Ajudam a estrela rastejante 
Em seu centro. A pedra, 
Um dia perto da fronte, abre-se aqui:   
Ante todos os 
Espalhados 
Sóis, alma, 
Estavas, no éter.



Paul Celan, poeta ucraniano-francês (1920-1970).
( tradução: Claudia Cavalcanti )  




Foto: pesquisa Google

sexta-feira, 22 de novembro de 2019







22 de Novembro - Dia do Músico


A alma sensível é como harpa que ressoa com um simples sopro.


Ludwig van Beethoven



https://youtu.be/_hyAOYMUVDs

quinta-feira, 21 de novembro de 2019







Arde agora o fogo do Outono, devagar,  através dos bosques,
E, dia após dia, caem e fundem-se as folhas mortas
E, noite após noite, o monitório vento
Geme na fechadura, contando como passou
Pelos campos desertos ou pelos montes solitários
Ou por terríveis e gigantescas ondas. Sente-se agora
O poder  da melancolia, mais delicada nas suas formas
Que qualquer encanto oferecido pelo complacente  Verão."



William Allingham, poeta britânico (n. 1824-1889).



  No livro - A Alegria de Viver com a Natureza de - Edith Holden



Foto: Pesquisa Google

sexta-feira, 8 de novembro de 2019





Os Seios



Como serpente arquejante
Se enrosca em férvida areia,
Meu ávido olhar se enleia
No teu colo deslumbrante.

Quando o descobres, no ar
Morno calor se dissolve
Do aroma, em que ele se envolve,
Como em neblina o luar.

Se ao corpo te enrosco os braços,
A terra e os céus estremecem,
E os mundos febris parecem
Derreter-se nos espaços!

E tu nem sequer presumes
Que então, querida, até creio,
Sorver, desfeito em perfumes,
Todo o sangue do teu seio.

Depois que aspiro, ansiado,
Do teu níveo colo o incenso,
Minh'alma semelha um lenço
De viva essência molhado.

Deixa que a louca se deite
Nesse torpor, que extasia,
E que o vinho do deleite
Me espume na fantasia;

Pois não há ópio ou haschis
Que me abrilhante as idéias
Como as fragrâncias sutis
Que fervem nas tuas veias!



Teófilo Dias, político e poeta brasileiro (1854-1889).


Foto: pesquisa net

sexta-feira, 25 de outubro de 2019






A Carícia Perdida



Sai-me dos
dedos a carícia sem causa,
Sai-me dos dedos... No vento, ao passar,
A carícia que vaga sem destino nem fim,
A carícia perdida, quem a recolherá?
Posso amar esta noite com piedade infinita,
Posso amar ao primeiro que conseguir chegar.
Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos.
A carícia perdida, andará... andará...
Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante,
Se estremece os ramos um doce suspirar,
Se te aperta os dedos uma mão pequena
Que te toma e te deixa, que te engana e se vai.
Se não vês essa mão, nem essa boca que beija,
Se é o ar quem tece a ilusão de beijar,
Ah, viajante, que tens como o céu os olhos,
No vento fundida, me reconhecerás?




Alfonsina Storni, poetisa argentina (1892-1938).




Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/