Anda, Vem
Anda, vem... por que te négas,
Carne morêna, toda perfume?
Por que te cálas,
Por que esmoreces
Boca vermêlha, - rosa de lume!
Se a luz do dia
Te cóbre de pêjo,
Esperemos a noite presos n'um beijo.
Dá-me o infinito goso
De contigo adormecer,
Devagarinho, sentindo
O arôma e o calôr
Da tua carne, - meu amôr!
E ouve, mancebo aládo,
Não entristeças, não penses,
- Sê contente,
Porque nem todo o prazer
Tem peccado...
Anda, vem... dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos;
Tenho Saudades da vida!
Tenho sêde dos teus beijos!
António Botto, poeta português (1897-1959).
in 'Canções'
Fonte: http://www.citador.pt/
Imagem: https://www.pinterest.pt/cinafraga/