segunda-feira, 11 de março de 2019





Antes que Seja Tarde


Amigo,
Tu que choras uma angústia qualquer
E falas de coisas mansas como o luar
E paradas
Como as águas de um lago adormecido,
Acorda!
Deixa de vez
As margens do regato solitário
Onde te miras
Como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
Desse país inventado
Onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
De barco ao deus-dará
E esse ar de renúncia
Às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
Liberta-te dessa paz podre de milagre
Que existe
Apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
Abre os braços e luta!
Amigo,
Antes da morte vir
Nasce de vez para a vida.



Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"





Fonte: http://www.citador.pt/

Imagem: https://www.pinterest.pt/cinafraga/