Se ainda houver amor eu me apresento.
E me entrego ao princípio do oceano.
E se me atinge a onda, húmida eu tremo
esquecida de insones desenganos.
E se ainda houver amor eu me arrebento
feliz, atravessada de esperança
e mesmo lacerada ainda assim tento
quebrar com meu amor todas as lanças.
E se ainda houver amor terei alento
para aguentar o inútil desses anos
e não me matarei, sonhando com o tempo
em que me afogarei no seu encanto.
E se ainda houver amor, ah, me consente
ser pasto de tua chama, astro medonho.
E se inda houver amor, eu simplesmente
apago esta ferida do meu sono.
Lucila Nogueira, escritora brasileira (1950-2016).