segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

 

 

 


 

 

Se ainda houver amor eu me apresento.

E me entrego ao princípio do oceano.

E se me atinge a onda, húmida eu tremo

esquecida de insones desenganos.

E se ainda houver amor eu me arrebento

feliz, atravessada de esperança

e mesmo lacerada ainda assim tento

quebrar com meu amor todas as lanças.

E se ainda houver amor terei alento

para aguentar o inútil desses anos

e não me matarei, sonhando com o tempo

em que me afogarei no seu encanto.

E se ainda houver amor, ah, me consente

ser pasto de tua chama, astro medonho.

E se inda houver amor, eu simplesmente

apago esta ferida do meu sono.

 

 

Lucila Nogueira, escritora brasileira (1950-2016).