terça-feira, 3 de janeiro de 2023

 

 

 


 

 

As Uvas

 

Que me não fujam as rosas

murchando co'a Primavera:

gosto das uvas em cachos

maduros ao sol da encosta

glória deste meu val',

pendendo em brilho de pérolas,

prazer do Outono dourado:

oblongas e transparentes

como dedos de donzela

 

Aleksandr Sergeevich Pushkin – O Poet'anarquista

 

 

 

É o maior poeta russo na época romântica, considerado por muitos como real fundador da moderna novela russa. Pushkin foi pioneiro no uso do discurso vernacular em seus poemas e peças teatrais, criando um estilo de narrativa que misturava drama, romance e sátira associada com a literatura russa, influenciando fortemente desde então os escritores russos seguintes. Escreveu também  ficção histórica.

Sua Marie: Uma História de Amor Russa fornece uma visão da Rússia durante o reinado da imperatriz Catarina II.

 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

 

 

 


 

Somos Deuses

 

Queria dizer-te simplesmente

Somos deuses meu amor

Os outros não nos ferem

 

E se de ti me chega

O  riso ardente

Eu vou a correr na floresta

 

Esquecendo que à hora

Do poente

O som se afoga a ocidente

 

 

Maria Teresa Horta

 

‘in Espelho Inicial

 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

 

 

 


 

 

Se ainda houver amor eu me apresento.

E me entrego ao princípio do oceano.

E se me atinge a onda, húmida eu tremo

esquecida de insones desenganos.

E se ainda houver amor eu me arrebento

feliz, atravessada de esperança

e mesmo lacerada ainda assim tento

quebrar com meu amor todas as lanças.

E se ainda houver amor terei alento

para aguentar o inútil desses anos

e não me matarei, sonhando com o tempo

em que me afogarei no seu encanto.

E se ainda houver amor, ah, me consente

ser pasto de tua chama, astro medonho.

E se inda houver amor, eu simplesmente

apago esta ferida do meu sono.

 

 

Lucila Nogueira, escritora brasileira (1950-2016).

 

 

 

 

 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

 

 

 


 

Litania Do Natal

 

 

A noite fora longa, escura, fria.

Ai noites de Natal que dáveis luz,

Que sombra dessa luz nos alumia?

Vim a mim dum mau sono, e disse: «Meu Jesus…»

Sem bem saber, sequer, porque o dizia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Na cama em que jazia,

De joelhos me pus

E as mãos erguia.

Comigo repetia: «Meu Jesus…»

Que então me recordei do santo dia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Ai dias de Natal a transbordar de luz,

Onde a vossa alegria?

Todo o dia eu gemia: «Meu Jesus…»

E a tarde descaiu, lenta e sombria.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

De novo a noite, longa, escura, fria,

Sobre a terra caiu, como um capuz

Que a engolia.

Deitando-me de novo, eu disse: «Meu Jesus…»

E assim, mais uma vez, Jesus nascia.

 

 

José Régio