segunda-feira, 9 de dezembro de 2019






Alvejava de neve outrora a rosa,
Nem como agora, doce recendia;
Baixo voava Amor sem tento um dia,
E na rama espinhosa
De sua flor virgínea se feria.
Do sangue divina! gota amorosa
Da ligeira ferida lhe corria,
E as flores da roseira onde caía
Tomavam do encarnado a cor lustrosa.
Agora formosa
A rúbida flor
Recorda de Amor
A chaga ditosa.

Para os braços da mãe voou chorando;
Um beijo lhe acalmou penas e ardores:
E tão doce o remédio achou das dores,
Que Amor só desejou de quando em quando
Que assim penando,
Com seus clamores
Novos favores
Fosse alcançando.

Súbito voa, pelos ares fende;
As rosas viu de sua dor trajadas,
E que só de suas glórias namoradas
Nada dissessem com razão se ofende:
A mão lhe estende,
E delicioso
Cheiro amoroso
Nelas recende.

Vós que as rosas gentis buscais, amantes,
Nos jardins do prazer,
E, em vez da flor, espinhos penetrantes
Só chegais acolher,
Resignados sofrei, sede constantes,
Que a desventura,
Que a mágoa e dor
Sempre em doçura
Converte Amor.



Almeida Garrett, escritor português (1799-1854).




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Sou composta por urgências:
minhas alegrias são intensas;
minhas tristezas, absolutas.
Entupo-me de ausências,
Esvazio-me de excessos.
Eu não caibo no estreito,
eu só vivo nos extremos.

Pouco não me serve,
médio não me satisfaz,
metades nunca foram meu forte!

Todos os grandes e pequenos momentos,
feitos com amor e com carinho,
são pra mim recordações eternas.
Palavras até me conquistam temporariamente...
Mas atitudes me perdem ou me ganham para sempre.

Suponho que me entender
não é uma questão de inteligência
e sim de sentir,
de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.



Clarice Lispector, escritora brasileira (1920-1977).



Foto: Pesqisa Google

sexta-feira, 29 de novembro de 2019





Asas Abertas



As asas da minh'alma estão abertas!
Podes agasalhar-te no meu Carinho,
Abrigar-te de frios no meu Ninho
Com as tuas asas trêmulas, incertas.

Tu'alma lembra vastidões desertas
Onde tudo é gelado e é só espinho.
Mas na minh'alma encontrarás o Vinho
e as graças todas do Conforto certas.

Vem! Há em mim o eterno Amor imenso
Que vai tudo florindo e fecundando
E sobe aos céus como sagrado incenso.

Eis a minh'alma, as asas palpitando
Com a saudade de agitado lenço
O segredo dos longes procurando...



João da Cruz e Sousa




Publicado no livro Últimos sonetos (1905).

terça-feira, 26 de novembro de 2019






Tem um aviso na porta do meu coração:

Quem não dança conforme o ritmo da casa,
não perca tempo tocando a campainha.




Maria Bethânia




sábado, 23 de novembro de 2019





Errático



As noites se fixam 
Sob teu olho. As sílabas re- 
Colhidas pelos lábios - belo, 
Silencioso círculo - 
Ajudam a estrela rastejante 
Em seu centro. A pedra, 
Um dia perto da fronte, abre-se aqui:   
Ante todos os 
Espalhados 
Sóis, alma, 
Estavas, no éter.



Paul Celan, poeta ucraniano-francês (1920-1970).
( tradução: Claudia Cavalcanti )  




Foto: pesquisa Google

sexta-feira, 22 de novembro de 2019







22 de Novembro - Dia do Músico


A alma sensível é como harpa que ressoa com um simples sopro.


Ludwig van Beethoven



https://youtu.be/_hyAOYMUVDs

quinta-feira, 21 de novembro de 2019







Arde agora o fogo do Outono, devagar,  através dos bosques,
E, dia após dia, caem e fundem-se as folhas mortas
E, noite após noite, o monitório vento
Geme na fechadura, contando como passou
Pelos campos desertos ou pelos montes solitários
Ou por terríveis e gigantescas ondas. Sente-se agora
O poder  da melancolia, mais delicada nas suas formas
Que qualquer encanto oferecido pelo complacente  Verão."



William Allingham, poeta britânico (n. 1824-1889).



  No livro - A Alegria de Viver com a Natureza de - Edith Holden



Foto: Pesquisa Google