sexta-feira, 12 de abril de 2019
quinta-feira, 11 de abril de 2019
quarta-feira, 10 de abril de 2019
IV
Assim cantou: e tal qual rosa e rosa
Se amparam e se põem ao léu do vento,
Quando a folha caída ganha alento
Na nódoa íntima de um céu cor rosa,
Desse modo a canção o beijo esposa;
E seu rosto afogou-se tão cinzento
Com seus cinzentos olhos, que, se atento
E os revejo, não sei se Amor os olha.
Sei apenas que aos poucos me embebedo,
Em longos goles, disto que ela bebe,
E o que chora, choro, e o que inala, inalo:
E quanto mais me inclino, o gentil dedo
Do Amor em meu pescoço se percebe
Até que os dois sumamos num só halo.
Dante Gabriel Rossetti, poeta, ilustrador e pintor britânico
(1828-1882).
(Trad. Matheus "Mavericco".)
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
terça-feira, 9 de abril de 2019
A morte dos amantes
Teremos leitos só rosas ligeiras
Divãs de profundeza tumular,
E estranhas flores sobre prateleiras,
Sob os céus belos a desabrochar.
A arder de suas luzes derradeiras,
Nossos dois corações vão fulgurar,
Tochas a refletir duas fogueiras
Em nossas duas almas, este par
Gêmeos espelhos. Por tarde mediúnica,
Nós trocaremos uma flama única
Um adeus que é um soluço tão cruel;
Pouco depois, um anjo abrindo as portas,
Virá vivificar, o mais fiel,
Os espelhos sem luz e as chamas mortas
Charles Baudelaire, poeta francês (1821- 1867).
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
domingo, 7 de abril de 2019
Abro a janela
Abro a janela e a porta. A luz do sol faísca
Numa rubra efusão de berilos diluídos
Onde estivera, há pouco, a mais bela odalisca
Do oriente, a lavar seus cabelos brunidos.
À luz do sol a praia é uma casa mourisca
Com mirantes azuis, circulando-a, floridos.
E esse barco a correr recorda uma ave arisca,
Que se afasta da terra. E aqui, pelo comprido
Caminho que a esmeralda encantadora arrasta
Vejo um rio a tremer no verdor que se alastra,
E um perfume sutil de roseiras encerra...
E através desse rio, e através do oceano,
Contemplativamente olho o sol, todo ufano,
A fecundar, seguido, o cetim da terra.
Juvêncio de Araújo Figueiredo
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
sexta-feira, 29 de março de 2019
Os Seios
Como serpente arquejante
Se enrosca em férvida areia,
Meu ávido olhar se enleia
No teu colo deslumbrante.
Quando o descobres, no ar
Morno calor se dissolve
Do aroma, em que ele se envolve,
Como em neblina o luar.
Se ao corpo te enrosco os braços,
A terra e os céus estremecem,
E os mundos febris parecem
Derreter-se nos espaços!
E tu nem sequer presumes
Que então, querida, até creio,
Sorver, desfeito em perfumes,
Todo o sangue do teu seio.
Depois que aspiro, ansiado,
Do teu níveo colo o incenso,
Minh'alma semelha um lenço
De viva essência molhado.
Deixa que a louca se deite
Nesse torpor, que extasia,
E que o vinho do deleite
Me espume na fantasia;
Pois não há ópio ou haschis
Que me abrilhante as idéias
Como as fragrâncias sutis
Que fervem nas tuas veias!
Teófilo Dias, político e poeta brasileiro (1854-1889).
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
Subscrever:
Mensagens (Atom)