segunda-feira, 27 de março de 2023

 

 

 


 

Percorro-te

A língua de cetim

A prolongar o êxtase

As mãos de seda

No rio do teu corpo.

Afloro a nascente:

E num grito

Todo tu és torrente.

É tarde, meu amor

É muito tarde.

O tempo implacável me consome

E destrói o vigor do corpo moço:

Apagou o fulgor do meu olhar

Roubou a altivez do seio cheio

Secou o rio manso do meu ventre

Cobriu de pergaminho a minha mão

É tarde, muito tarde

Mas… por dentro

Ainda bate, por ti, o coração.

 

 

Maria Aurora Carvalho Homem

 

(in Discurso Amoroso, Porto 2006)