sábado, 2 de maio de 2020







(Sem Título)



És como doce juriti da mata,
Ligeira, esquiva, tímida e medrosa:
Foges de mim tremente e suspirosa,
Como quem de um perigo se recata.
Mas não sei, afinal, criança ingrata,
Porque foges: não sei porque amorosas
Tua alma casta, angélica e bondosa,
Com tão doce esquivança me maltrata.
Abre as asas à luz serenamente
E vem fugindo aos gelos do deserto
Buscar o sol do meu amor ardente.
Dirige para mim teu voto incerto,
Pois tens meu coração, pomba inocente,
Como um tépido ninho sempre aberto.



Adelino Fontoura, 

poeta, jornalista e ator brasileiro (1859-1884).




(Publicado originalmente em O Álbum, Rio de Janeiro, n. 40, de setembro de 1983, com o título de "O Ninho".