Deito-me na cama vazia
E entrego-me ao silêncio
Não há ecos
Não há sombras
Não há braços, nem pernas
À espera de mim
O meu corpo molda-se aos lençóis
E enrola-se no sonho
Na maresia do desejo de te ter
De te encontrar
Aqui na penumbra do meu quarto
No sossego das minhas vozes
Na tempestade do meu ser
Sedento de ti
Abro os sentidos em mim
Devagarinho, como quem abre
Uma porta antiga, selada de tempo
E deixo-te entrar
Sorrateiro e impotente
Na tua dimensão emprestada
À minha fantasia
Sinto o teu peso sobre mim
A deslizar num movimento febril
E o teu rosto indistinto de sépia
Numa moldura de outro século
Liberta-me em espasmos doloridos
Resgata-me da minha solidão
Para me levar contigo
O amor franqueia todas as cancelas
A eternidade é o momento
Ana Wiesenberger
“in Um não querer mais que bem querer”
Portugal 1962
Fonte: http://cantodaalma-cantodaalma.blogspot.com