Nos lábios da paisagem
Bátegas de vento beijam as nuvens cinzentas
abrindo fendas nas encostas da minha serra
alguém nas grades da vida beija o próprio ar que respira
agora chove
perduram corações nos cabelos das montanhas
como se o piano do tempo tocasse só para elas
odes de trovas pintadas e inventadas em réstias de aguarelas
quando as poucos aves deslizam numa singela viagem
até que surge o amor
nos lindos lábios da paisagem
António José da Silva, escritor e teatrólogo português
1705-1739
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/