Árvores
Eu, nestes campos, longe do tumulto,
Amo essas tristes árvores que crescem
Por sobre as margens dum arroio oculto,
Ouvindo as águas que cantando descem...
Gosto de vê-las à tardinha, envoltas
Numa suave e mística tristeza,
Olhando os rolos das espumas soltas
Que encrespam o lençol da correnteza.
Tristonhas plantas! Árvores sombrias!
Como se as torturasse estranha mágoa,
E as compungissem fundas nostalgias,
- Procuram consolar-se à beira d'água.
Oh! vós que amais os campos, nunca as vistes?
- Desconsoladas, trêmulas, chorosas,
Pelas barrancas dos arroios tristes
Debruçam as ramagens silenciosas...
Que importa o sol, que importa a chuva e o vento,
Se sempre as mesmas ânsias as consomem?
Talvez - quem sabe? - nesse desalento,
Palpite e sofra o coração dum homem!
Talvez nessas folhagens, nesses ramos,
Torturados de angústia e desconforto,
Sem que a vejamos, sem que a compreendamos,
Soluce a alma de algum poeta morto.
Ai, não turbeis a misteriosa mágoa,
A imensa nostalgia em que se abismam;
Deixai-as em silêncio, à beira dágua,
Essas tristonhas árvores que cismam...
Publicado no livro Alma Cabocla (1920). Poema integrante da
série Sertanejas.
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/