Aquele Claro Sol
Aquele claro sol, que me mostrava
o caminho do céu mais chão, mais certo,
e com seu novo raio, ao longe, e ao perto,
toda a sombra mortal m'afugentava,
deixou a prisão triste, em que cá estava.
Eu fiquei cego, e só, c'o passo incerto,
perdido peregrino no deserto
a que faltou a guia que o levava.
Assi c'o esprito triste, o juízo escuro,
suas santas pisadas vou buscando
por vales, e por campos, e por montes.
Em toda parte a vejo, e a figuro.
Ela me toma a mão e vai guiando,
e meus olhos a seguem, feitos fontes.
António Ferreira, in 'Poemas Lusitanos'
https://www.pinterest.pt/cinafraga/