quinta-feira, 20 de julho de 2017




III

Se a minha vida do áspero tormento
E tanto afã puder se defender,
Que por força da idade eu chegue a ver
Da luz do vosso olhar o embaciamento,

E o áureo cabelo se tornar de argento,
E os verdes véus e adornos desprender,
E o rosto, que eu adoro, empalecer,
Que em lamentar me faz medroso e lento,

E tanta audácia há de me dar o Amor,
Que vos direi dos martírios que guardo,
Dos anos, dias, horas o amargor.

Se o tempo é contra este querer em que ardo,
Que não o seja tal que à minha dor
Negue o socorro de um suspiro tardo.

Francesco Petrarca


(Traduções de Renato Suttana)


Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/