terça-feira, 5 de julho de 2022

 

 

 


 

Confidência

 

Diz o meu nome

Pronuncia-o

Como se as sílabas te queimassem os lábios

Sopra-o com a suavidade

De uma confidência

Para que o escuro apeteça

Para que se desatem os teus cabelos

Para que aconteça

 

 

Porque eu cresço para ti

Sou eu dentro de ti

Que bebe a última gota

E te conduzo a um lugar

Sem tempo nem contorno

 

 

Porque apenas para os teus olhos

Sou gesto e cor

E dentro de ti

Me recolho ferido

Exausto dos combates

Em que a mim próprio me venci

 

 

Porque a minha mão infatigável

Procura o interior e o avesso

Da aparência

Porque o tempo em que vivo

Morre de ser ontem

Ee é urgente inventar

Outra maneira de navegar

Outro rumo outro pulsar

Para dar esperança aos portos

Que aguardam pensativos

 

 

No húmido centro da noite

Diz o meu nome

Como se eu te fosse estranho

Como se fosse intruso

Para que eu mesmo me desconheça

E sobressalta-me

quando suavemente

pronunciares o meu nome.

 

Mia Couto, escritor e biólogo moçambicano. (1955)

 

Serge Marshennikov - Artist

 

 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

 

 

 




Sonhei com lúcidos delírios

À luz dum puro amanhecer

Numa planície onde crescem lírios

E há regatos cantantes a correr

 

Sophia de Mello Breyner Andresen   poetisa e escritora portuguesa (1919-2004).

 

in’ Dia do mar

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 1 de julho de 2022

 

 


 

 

A noite

Acaricia o horizonte da noite, busca o coração de azeviche que a aurora recobre de carne. Ele te porá nos olhos pensamentos inocentes, chamas, asas e verduras que o sol ainda não inventou.

Não é a noite que te falta, mas o seu poder.

 

Paul Eluard

 

 

 

sábado, 28 de maio de 2022

 

 

 


 

 

Homenagem a Carolina Beatriz Ângelo (1878 – 1911)


Carolina Beatriz Ângelo nasceu na Guarda, São Vicente, 16 de Abril de 1878 foi médica e feminista portuguesa.

Foi a primeira mulher cirurgiã e a primeira mulher a votar em Portugal, por ocasião das eleições da Assembleia Constituinte, em 1911.

O facto de ser viúva e de sustentar a sua filha Maria Emília Ângelo Barreto (1903-1981), permitiu-lhe invocar em tribunal o direito de ser considerada "chefe de família", tornando-se assim a primeira mulher a votar no país, nas eleições constituintes, a 28 de maio de 1911. Por forma a evitar que tal exemplo pudesse ser repetido, a lei do código eleitoral português foi alterada no ano seguinte, com a especificação de que apenas os chefes de família do sexo masculino poderiam exercer o seu direito de voto.

 

Carolina Beatriz Ângelo, inscrita com o número 2513 na freguesia de S. Jorge de Arroios.