sexta-feira, 1 de julho de 2022

 

 


 

 

A noite

Acaricia o horizonte da noite, busca o coração de azeviche que a aurora recobre de carne. Ele te porá nos olhos pensamentos inocentes, chamas, asas e verduras que o sol ainda não inventou.

Não é a noite que te falta, mas o seu poder.

 

Paul Eluard

 

 

 

sábado, 28 de maio de 2022

 

 

 


 

 

Homenagem a Carolina Beatriz Ângelo (1878 – 1911)


Carolina Beatriz Ângelo nasceu na Guarda, São Vicente, 16 de Abril de 1878 foi médica e feminista portuguesa.

Foi a primeira mulher cirurgiã e a primeira mulher a votar em Portugal, por ocasião das eleições da Assembleia Constituinte, em 1911.

O facto de ser viúva e de sustentar a sua filha Maria Emília Ângelo Barreto (1903-1981), permitiu-lhe invocar em tribunal o direito de ser considerada "chefe de família", tornando-se assim a primeira mulher a votar no país, nas eleições constituintes, a 28 de maio de 1911. Por forma a evitar que tal exemplo pudesse ser repetido, a lei do código eleitoral português foi alterada no ano seguinte, com a especificação de que apenas os chefes de família do sexo masculino poderiam exercer o seu direito de voto.

 

Carolina Beatriz Ângelo, inscrita com o número 2513 na freguesia de S. Jorge de Arroios.

 

 

 

segunda-feira, 9 de maio de 2022

sexta-feira, 6 de maio de 2022

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Balada da neve

 

 

Batem leve, levemente,

como quem chama por mim.

Será chuva? Será gente?

Gente não é, certamente

e a chuva não bate assim.

 

É talvez a ventania:

mas há pouco, há poucochinho,

nem uma agulha bulia

na quieta melancolia

dos pinheiros do caminho...

 

Quem bate, assim, levemente,

com tão estranha leveza,

que mal se ouve, mal se sente?

Não é chuva, nem é gente,

nem é vento com certeza.

 

Fui ver. A neve caía

do azul cinzento do céu,

branca e leve, branca e fria...

- Há quanto tempo a não via!

E que saudades, Deus meu!

 

Olho-a através da vidraça.

Pôs tudo da cor do linho.

Passa gente e, quando passa,

os passos imprime e traça

na brancura do caminho...

 

Fico olhando esses sinais

da pobre gente que avança,

e noto, por entre os mais,

os traços miniaturais

duns pezitos de criança...

 

E descalcinhos, doridos...

a neve deixa inda vê-los,

primeiro, bem definidos,

depois, em sulcos compridos,

porque não podia erguê-los!...

 

Que quem já é pecador

sofra tormentos, enfim!

Mas as crianças, Senhor,

porque lhes dais tanta dor?!...

Porque padecem assim?!...

 

E uma infinita tristeza,

uma funda turbação

entra em mim, fica em mim presa.

Cai neve na Natureza

- e cai no meu coração.

 

Augusto César Ferreira Gil

 

 

 

 

 

quinta-feira, 5 de maio de 2022

 

 

 


 

 

5 de Maio - Dia Mundial da Língua Portuguesa

 

É tão fundo o silêncio

 

É tão fundo o silêncio entre as estrelas.

Nem o som da palavra se propaga,

Nem o canto das aves milagrosas.

Mas lá, entre as estrelas, onde somos

Um astro recriado, é que se ouve

O íntimo rumor que abre as rosas.

 

 

 José Saramago, em "Provavelmente alegria". Lisboa: Editorial Caminho, 1985.