Coração de Pedra
Não tem olhos de ver para a eterna beleza,
o sorriso de Deus que ilumina a existência;
não lhe fala à alma rude a suave pureza
que reponta e sorri nos lábios da inocência;
a flor não o interessa, ou surja na devesa,
onde acaso a plantou a mão da Providência,
ou soberba pompeie, onde o Belo se preza,
requinte de arte pura ou prodígio da ciência.
É que o vêzo do lucro, o seu deus verdadeiro,
lhe deu ao coração consistência de pedra
e aos olhos lhe roubou o poder da visão.
Só lhe sobe à alma torpe o ouro, a moeda, o dinheiro...
Templo erguido a Mamona, a piedade não medra
na profunda aridez do seu vil coração.
Bento Prado Júnior,
filósofo, escritor e poeta brasileiro (1937-2007).
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